segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Zica nº6: Indo à Escola

Chegamos a um ponto onde falar de zica por idade fica impossível, pois são tantas que seria injusto não descrevê-las com a atenção que elas merecem. Claro que vou continuar falando do nosso desenvolvimento, mas creio que os eventos a partir de agora são mais importantes.

À primeira vista, ir à escola pela primeira vez é algo positivo. Ter pouco mais de 3 anos significa perguntar um milhão de coisas aos nossos pais, e eles muitas vezes:

a) Não sabem a resposta
b) Não sabem explicar de uma maneira simples e principalmente
c) Perdem a paciência depois do 372º "por quê?"

PORQUE SIM.
Crianças a partir dessa idade são incrivelmente curiosas e inconvenientes. Os psicólogos dizem que é um processo natural e saudável, mas é um pé no saco para todos exceto a criança que pergunta.

Mas mesmo assim, é uma fase importante e indica que a criança esta apta a começar a aprender coisas novas, a se desenvolver intelectualmente, e muitas delas têm sua primeira experiência com a escolinha nessa fase.

Manter um contato diário com outras pessoas da sua faixa etária pela primeira vez é uma das coisas mais importantes que vai acontecer na sua vida. É algo que vai se repetir diversas vezes, e essa primeira vai te ensinar muito.

Primeiro e mais importante: filhos da puta nascem em árvores.

Mas isso você já sabia.
É uma constante universal, e é na escola que descobrimos isso. Em qualquer lugar que você for, não importa o que você estiver fazendo, sempre vai ter alguém disposto a fazer você se foder ou para rir da sua desgraça. É lá que acontece o bullying. É lá que somos incentivados a competir contra as meninas (ou contra os meninos, se você for uma menina). É lá que sentimos na pele a lei do mais forte.

E se você for o mais forte, fatalmente será o mais filho da puta.

E é na escola que aparecem os apelidos, é claro. Se em casa seu apelido era "Tchuco", "Lindinho", "Princesinha", pode ter certeza que na escola você vai virar "Gordo", "Teta", "Bafo" ou "Girafa", como era o meu caso.

Na escola também entramos em contato com a luta de classes. Em toda sala de aula, seja de escola pública ou particular, sempre tem o mais rico e o mais pobre. E quando se é criança, das duas uma: ou você esfrega seus brinquedos na cara dos mais pobres ou você tem vontade de matar o filho da puta que faz isso com você.

Na próxima cena, o Chaves samba em cima desse caminhãozinho.
E, é claro, temos as professoras, nesse momento chamadas pelo carinhoso apelido de "tia". Elas geralmente são mulheres jovens que, de início, adoravam crianças, mas com o tempo perceberam como é estressante conviver com várias delas diariamente e agora simplesmente abstraem, ficam pensando na noite de sexo do dia anterior (rezando para não terem engravidado) e fazer o possível para que as crianças não se matem machuquem. Ou simplesmente coordenam algumas brincadeiras.

Mas nem tudo é tão ruim assim. Fazemos nossas primeiras amizades, e algumas (raríssimas) duram para a vida toda. Talvez seja nessa fase que nos apaixonemos pela primeira vez, e talvez aí tenhamos nossos corações partidos.

E aí começamos a entender como o mundo realmente funciona.

E raramente é assim.
E esse é só o começo da vida escolar. Nas zicas que se seguirem falarei sobre como elas conseguem evoluir exponencialmente.