sábado, 11 de fevereiro de 2012

Zica nº7: Coisas de Criança

Ah, a infância. A época mágica, a inocência, a fase das travessuras e das descobertas. Mas algo que muitas pessoas preferem deixar para trás são as coisas incrivelmente bizarras e constrangedoras que fazemos nesta fase da vida, seja na escola, em casa, na frente da família ou em qualquer lugar que seja.
E depois nos lembramos com a cara do "Oh God Why"
O mundo visto dos olhos de uma criança é muito diferente por milhões de motivos, mas principalmente porque não temos auto-consciência e, consequentemente, não temos filtros (ou seria o contrário?). Até podemos nos sentir incrivelmente envergonhados, mas temos muito menos destreza para evitar essas malditas situações. Darei alguns exemplos - sem citar nomes, é claro.

Imagine a seguinte cena: a família inteira reunida na sala (isso inclui avós, tios e primos) quando alguém comenta:
-Essa camisa está meio curta.
A criança, sem ter ideia do que está falando e tentando parecer inteligente e engraçada, imediatamente responde:
-É para se proteger da AIDS, porque precisa usar camisinha.

Essa foto é perfeita.
Esse tipo de situação bizarra (e real) acontece porque a criança usa uma informação que ela recebeu corretamente - de que HIV se evita com camisinha - sem ter qualquer ideia do contexto dessa mesma informação. E porque a criança usa a informação? Porque toda criança é uma attention whore.
Assim como boa parte dos usuários do Facebook.
Essa necessidade incrível de atenção é o que leva a criança a ter algumas reações exageradas, como rir muito mais do que o natural de algo engraçado ou demonstrar espanto ou raiva de maneiras excessivas. E isso geralmente é culpa da família, que acostumou a criança a ser o centro das atenções e a fez acreditar que é mais importante que os outros.

Aliás, pais ultra-permissivos muitas vezes são o problema. Quando eu tinha uns 11 ou 12 anos, um amigo meu fui na minha casa para brincar e, quando os pais foram buscá-lo, levaram o irmão mais novo junto. O moleque começou a correr pela casa, batendo em todos os móveis e vidros, puxando fios das coisas, etc. Minha mãe, desesperada, olhou para os pais, na esperança de que eles fizessem algo para parar a fera. Com um sorriso compreensivo, eles nos tranquilizaram:
-Ele está se familiarizando com o ambiente.

Acima: trator se familiarizando com o ambiente.
O pior é quando só reencontramos os adultos quando já não somos mais crianças e a lembrança mais recente entre os dois é daquela vez que você cagou na sala ou que você andou pelado na festa do Renatinho; ou, é claro, aquela reunião de família onde o seu tio vai lembrar daquela coisa incrivelmente embaraçosa que você falou quando tinha 7 anos.
Toda criança é um socially awkward penguin em potencial.
Isso quando não tem foto ou vídeo. Ah, os antigos vídeos de família. Felizmente eu passei minha infância numa época em que a internet e câmeras digitais ainda eram algo muito distante, então as coisas idiotas que eu fiz são lendas locais entre familiares e amigos. Mas hoje em dia, se você faz uma cagada existe uma enorme chance de alguém estar filmando e outra grande chance dessa pessoa postar o seu vídeo no YouTube. E aí você fica famoso por sua idiotice, como é o caso dos vídeos abaixo:



Mas isso só acontece porque o mundo dos adultos é diferente e temos uma compreensão que as crianças não tem. No próximo post eu vou falar sobre como o mundo é zicado até mesmo entre as próprias crianças.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Zica nº6: Indo à Escola

Chegamos a um ponto onde falar de zica por idade fica impossível, pois são tantas que seria injusto não descrevê-las com a atenção que elas merecem. Claro que vou continuar falando do nosso desenvolvimento, mas creio que os eventos a partir de agora são mais importantes.

À primeira vista, ir à escola pela primeira vez é algo positivo. Ter pouco mais de 3 anos significa perguntar um milhão de coisas aos nossos pais, e eles muitas vezes:

a) Não sabem a resposta
b) Não sabem explicar de uma maneira simples e principalmente
c) Perdem a paciência depois do 372º "por quê?"

PORQUE SIM.
Crianças a partir dessa idade são incrivelmente curiosas e inconvenientes. Os psicólogos dizem que é um processo natural e saudável, mas é um pé no saco para todos exceto a criança que pergunta.

Mas mesmo assim, é uma fase importante e indica que a criança esta apta a começar a aprender coisas novas, a se desenvolver intelectualmente, e muitas delas têm sua primeira experiência com a escolinha nessa fase.

Manter um contato diário com outras pessoas da sua faixa etária pela primeira vez é uma das coisas mais importantes que vai acontecer na sua vida. É algo que vai se repetir diversas vezes, e essa primeira vai te ensinar muito.

Primeiro e mais importante: filhos da puta nascem em árvores.

Mas isso você já sabia.
É uma constante universal, e é na escola que descobrimos isso. Em qualquer lugar que você for, não importa o que você estiver fazendo, sempre vai ter alguém disposto a fazer você se foder ou para rir da sua desgraça. É lá que acontece o bullying. É lá que somos incentivados a competir contra as meninas (ou contra os meninos, se você for uma menina). É lá que sentimos na pele a lei do mais forte.

E se você for o mais forte, fatalmente será o mais filho da puta.

E é na escola que aparecem os apelidos, é claro. Se em casa seu apelido era "Tchuco", "Lindinho", "Princesinha", pode ter certeza que na escola você vai virar "Gordo", "Teta", "Bafo" ou "Girafa", como era o meu caso.

Na escola também entramos em contato com a luta de classes. Em toda sala de aula, seja de escola pública ou particular, sempre tem o mais rico e o mais pobre. E quando se é criança, das duas uma: ou você esfrega seus brinquedos na cara dos mais pobres ou você tem vontade de matar o filho da puta que faz isso com você.

Na próxima cena, o Chaves samba em cima desse caminhãozinho.
E, é claro, temos as professoras, nesse momento chamadas pelo carinhoso apelido de "tia". Elas geralmente são mulheres jovens que, de início, adoravam crianças, mas com o tempo perceberam como é estressante conviver com várias delas diariamente e agora simplesmente abstraem, ficam pensando na noite de sexo do dia anterior (rezando para não terem engravidado) e fazer o possível para que as crianças não se matem machuquem. Ou simplesmente coordenam algumas brincadeiras.

Mas nem tudo é tão ruim assim. Fazemos nossas primeiras amizades, e algumas (raríssimas) duram para a vida toda. Talvez seja nessa fase que nos apaixonemos pela primeira vez, e talvez aí tenhamos nossos corações partidos.

E aí começamos a entender como o mundo realmente funciona.

E raramente é assim.
E esse é só o começo da vida escolar. Nas zicas que se seguirem falarei sobre como elas conseguem evoluir exponencialmente.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Zica nº5: Deixando de ser um bebê

Finalmente você completou um ano de vida e experimentou, pela primeira vez, o que é ter uma festa de aniversário. Pena que você não vai lembrar de nada quando crescer, pois existe um negócio chamado "amnésia infantil". Já reparou que você se lembra de pouquíssima coisa - ou quase nada - de quando você tinha menos de 3 ou 4 anos? Então.


Existem várias teorias para isso. Freud dizia que nossos primeiros anos são tão traumáticos que o nosso cérebro apagava tudo. Certeza que ele concordaria com o Mundo Zicado.


"Hehehehe... essa da cenoura foi boa..."
Estudos mais recentes mostram que o nosso cérebro só consegue armazenar memórias mais elaboradas a partir dos 3 anos e pouco. Mas eu ainda concordo com a teoria do Freudão.


Mas voltando ao seu aniversário de um ano, é uma festa onde quase todo mundo vai para agradar os seus pais e comer. Claro, acham você bonitinho (a), mas você não consegue nem assoprar a velinha sozinho sem babar no bolo inteiro, quanto mais cantar parabéns, agradecer os presentes e fazer sala. Você, pra variar, vai dormir, cagar e comer.


OM NOM NOM NOM
Mas é logo depois do seu primeiro aniversário que começa um novo estágio da sua vida. Infelizmente não achei uma tradução apropriada para o português, mas em inglês deixamos de ser babies e passamos a ser toddlers, criancinhas novas. Os dentes continuam a nascer a todo instante e continuamos crescendo em um ritmo acelerado. Com 14 meses já somos espertos o suficiente para comer com uma colher, beber com um copo e até andar sozinhos. Pena que fazemos tudo isso com uma coordenação motora pífia, o que resulta em mais quedas de cara no chão e muita sujeira.


É manteiga de amendoim, mas poderia não ser.
Uma coisa interessante que acontece nessa fase é o desenvolvimento da nossa fala. Já conseguimos usar de 10 a 15 palavras, o que não é muito, mas conseguimos falar "sim" e "não" e sabemos avisar nossas mães que precisamos ter nossas fraldas trocadas (isso se ela não for surda, claro).

Aos 18 meses já começamos a desenvolver nossa individualidade. Temos nosso brinquedo preferido, cobertor preferido, etc, e já conseguimos usar alguns adjetivos junto com substantivos, formando frases curtinhas como "casa azul", por exemplo. É nessa fase que começamos a dar chiliques quando ficamos muito putos e queremos chamar a atenção. Tipo neste vídeo clássico:


Ou seja, antes dos dois anos já somos egoístas e mimados, tentamos conseguir tudo no grito e mudamos de humor constantemente. É como se estivéssemos de TPM 24 horas por dia, mas sendo anões, sem conseguir andar rápido, sem ter força pra fazer nada e sem poder fazer uma panela de brigadeiro e chorar vendo uma comédia romântica (é isso, meninas?).

Aos dois anos de idade fazemos vários progressos. Já começamos a aprender a usar a privada (obviamente com a ajuda de um adulto), já temos um extenso vocabulário de 350 palavras e deixamos de ser incrivelmente cabeçudos. Pela primeira vez em toda a nossa existência, a circunferência do nosso tórax supera a circunferência da nossa cabeça. E estamos mais egoístas do que nunca: tudo "é meu".

Meu!! MEEEEU!!! MEEEEEEEEU!!!
Durante o nosso segundo ano de vida temos um desenvolvimento muito acelerado. Aprendemos rapidamente palavras (cerca de 8 por dia), nomes de pessoas e lugares, jogos, brincadeiras, etc. O mundo é um lugar a ser explorado e queremos nos inserir nele com tudo isso. Mas nessa idade ainda não temos conhecimento nem experiência o suficiente para saber o quanto ele é zicado. Que o digam nossos pais, que em pouco tempo irão conviver com uma criança em sua pior fase: entre 3 e 6 anos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Zica nº4: Dos 6 meses até 1 ano

Junto com seus dentes, você também está crescendo o tempo todo, mas azar dos seus pais que precisam comprar roupas novas pra você o tempo todo - ou azar o seu, se os seus pais não puderem comprar e você precisar usar roupas menores ou simplesmente roupa nenhuma. E com o crescimento, um monte de novidades chegam por aí.

As horas que restam das 14 que você passa dormindo e das outras que você passa comendo ou cagando servem basicamente para você interagir com o ambiente, e você já consegue fazer alguns sons mais articulados, formando sílabas tipo gugu-dadá.


Gugu?



Nossa, que merda de piada.
Outra coisa que não demora nessa fase é pro bebê usar o polegar pra segurar as coisas. Você sabe que ter um polegar é uma enorme vantagem em relação aos outros animais. Poucos animais além dos seres humanos e primatas têm esse polegar, que é um dos grandes responsáveis pela evolução humana. Graças ao polegar opositor nós conseguimos segurar as coisas, construir ferramentas e até nos masturbar, no caso dos homens.

Um dos primeiros resultados para "punhetinha" no Google Images.
Mas esse, como tantos outros, também é um período ingrato da vida. A gente consegue segurar as coisas, mas ainda não consegue sentar sem usar as mãos. É meu amigo, essa fase resulta em muitas - muitas - quedas de cara no chão.


Você, caindo de cara no chão.

No oitavo mês já aprendemos que não significa não, e paramos de fazer alguma merda quando nossa mãe manda. Estamos ficando incrivelmente espertos, aprendendo várias coisas a cada dia e já gostamos de brincadeiras específicas, tipo bater palmas ou "cadê o bebê".
Olha ele aquiii!

Finalmente, no nono mês, conseguimos a liberdade parcial de engatinhar, o que significa uma enorme preocupação para os pais, pois podemos nos matar com praticamente TUDO da casa: degraus, tomadas, armários, cadeiras, tapetes, piscinas, janelas, portas, sacos plásticos, baratas, cachorros.

E vice-versa.
Mas é no décimo mês que conseguimos um enorme triunfo: finalmente conseguimos ficar em pé, mesmo que para isso precisemos de um ponto de apoio. Engatinhando, enxergávamos o mundo a pouco mais de 20cm de altura. Agora, essa distância quase triplica. No meu caso, seria o mesmo que acordar e ter quase 6 metros de altura.

Mas com um pau muito maior que esse, eu espero.
Essa mudança de visão de mundo pode resultar em vários acidentes, pois ainda temos um equilíbrio parco e a dimensão das coisas passa a ser totalmente nova. Mas a zica maior ainda está por vir: pouco depois do nosso primeiro aniversário, começamos a andar sem ajuda. E aí o bicho vai pegar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Zica nº3: Os Primeiros 6 Meses de Vida

Tomo a liberdade de pré-estabelecer algumas condições para a continuidade deste post.

a) Você não foi abortado ou morreu durante o parto
b) Você não teve nenhuma doença genética que altere seu desenvolvimento
c) Sua mãe não brincou de Menina Isabela com você durante a depressão pós-parto

d) Você é um ser humano


Justo? Podemos continuar.


Nossa maior vitória até os dois meses de vida é conseguir mamar, o que é o mínimo para sobrevivermos já que nossos amigos placenta e cordão umbilical já se foram. Fazemos isso involuntariamente - é um reflexo. Basta alguém encostar na nossa bochecha que achamos que é hora de sugar um mamilo. Tenho amigos com esses reflexos até hoje.


E as meninas nunca entendem.
De resto, tudo o que conseguimos fazer aparentemente serve apenas para que os adultos achem uma gracinha e mostrem para os amigos. "Olha, Cláudia, que bonitinho! Ele tá tentando andar", diz sua mãe, rindo do seu patético reflexo de balançar as pernas quando alguém te segura encostando seus pés no chão. Isso sem contar as incontáveis vezes que as pessoas colocam coisas nas nossas mãos apenas para verem a gente segurar sem querer - outro reflexo incontrolável.

E provavelmente a origem do "puxa meu dedo" (ou "pull my finger)".

E o tanto de gente indesejada que temos que suportar? Todo mundo quer ver o bebê, segurar o bebê, olhar o bebê. A gente querendo ficar com a nossa mãe, pai, irmãos no máximo, e vem o tio-avô do cunhado do vizinho querer te segurar. E você, indefeso, incapaz de manifestar sua infelicidade de outra maneira, chora. E todo mundo acha graça de você não ter gostado do cara que está te segurando, e ninguém faz nada para ele parar de te segurar.

ME SOLTA PELO AMOR DE DEUS

Você tem que conviver com isso por um bom tempo, mas a partir do terceiro mês de vida seus reflexos primitivos começam a sumir e você começa a ter controle dos seus movimentos - totalmente descoordenados e limitados, mas pelo menos você faz quando quer. Você consegue ficar reto se alguém te colocar sentado e apoiado em alguma coisa. E seus olhos já estão melhores, então você já distingue muito melhor os rostos das pessoas - o que não é necessariamente algo bom.


Principalmente se você for filho do Shane MacGowan.

Você começa a ficar mais sociável e a gostar mais de ficar perto das pessoas que você gosta, e também começa a se distinguir mais das crianças da mesma idade - não preciso nem dizer que todo recém-nascido tem a mesma cara. Nesse ponto, tirando o fato de você não conseguir fazer nada sozinho, se cagar e se mijar o tempo todo, só tomar leite, precisar de ajuda pra fazer qualquer outra coisa que não seja deitar, mamar e segurar coisas pequenas, até que a vida é bem agradável. Tanto que é nessa fase que começamos a dar nossas primeiras risadas.


Rá!

Tudo parece ir bem! Aos 5 meses já conseguimos rolar, estender a mão para segurar as coisas e até tentamos imitar as caras que as pessoas fazem pra gente. Mas como Deus tem um humor peculiar, quando tudo estava ficando bom, começam a nascer os nossos dentes, o que significa muita dor e coceira na gengiva.


RÁ!

Nesta fase começamos a morder tudo o que aparece pela frente: chocalhos, brinquedos, pessoas. Tudo para tentar aliviar a coceira insuportável dos dentes nascendo. E só para reforçar a "belezinhadade", os primeiros dentes que nascem são os incisivos inferiores.

"Eu vou te apertar e te beijar e te amar" - Felícia.
Isso é pra gente aprender desde cedo que nada - nem mesmo nossos dentinhos - vem de graça.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Zica nº 2: Após o Nascimento

Pois bem, apesar de você ter chorado e esperneado, você nasceu e passou por todo o trauma de sair do melhor lugar do mundo para um lugar frio, cheio de ar e pessoas te furando. Sua mãe até tenta te confortar dando o peito pra você mamar e o aconchego dos braços, mas não é a mesma coisa.

Acima: não é a mesma coisa.

Claro que, com o tempo, nossas preferências mudam, mas enfim.

O grande problema é que, depois que nascemos, ainda não estamos totalmente desenvolvidos. Compare um bebê humano com, por exemplo, um bebê girafa. Assista o vídeo abaixo, que mostra uma girafa dando à luz:


Pra começar, se aquilo fosse um bebê humano teria morrido antes de cair no chão, mas esse não é o ponto onde eu quero chegar. Você viu quantos minutos tem o vídeo? 4:31. E até o fim do vídeo (spoilers) a girafa consegue ficar em pé e até se equilibrar quando recebe uns pedalas da mãe (os cortes do vídeo são desprezíveis na comparação). A gente não consegue nem sentar antes dos seis meses.
Chupa.
Li uma vez que isso acontece porque ser bípede exige um estreitamento da bacia. Então, nos desenvolvemos apenas parcialmente dentro de nossas mães para que elas não fiquem parecendo o Nhonho antes de nós nascermos. Nossa visão é ridícula nos primeiros dias de vida - afinal, não precisávamos dela quando estávamos no aconchego do útero. Enxergamos apenas uns 25cm à frente do nariz, o suficiente para sabermos onde está o peito da nossa mãe. Nossos paladar e olfato são bem desenvolvidos, mas isso não é exatamente uma vantagem se considerarmos que iremos, basicamente, beber leite e sentir o cheiro da nossa própria merda a maior parte do dia.
O cheiro da vida aqui fora.
Ah, e eu falei das cólicas?
Sabe quando uma criança começa a chorar sem parar e ninguém sabe dizer o motivo? A isso dão o nome de cólica, que aparentemente significa "que porra é essa?" no jargão pediátrico. Mas não deve ser nada bom, e o incrível é que é muito comum e dura, geralmente, até o quarto mês.
E você passa por tudo isso apenas se a sua mãe não ficar maluca com a depressão pós-parto, que afeta de 75 a 80% das mães em diferentes graus de intensidade. Existem algumas mães que chegam a ponto de matar seus bebês.
Hora da fogueira.
Mas se você está lendo isso significa que sua mãe não quis te matar (ou não conseguiu e você foi resgatado por alguém), o que é bom. Mas mesmo assim, ela poderia ter te matado sem querer sendo uma mãe relapsa e esquecido você amarrado (a) na cadeirinha no banco de trás do carro, por exemplo.
Ou pisando no seu pescoço sem querer.

Agora que já falamos sobre a merda que é ser completamente dependente dos outros, aguarde o próximo post para uma reflexão sobre as mudanças que acontecem até a gente conseguir sentar sozinho.

Zica nº1: Nascer

Sei que o título soa pessimista, mas nascer é um puta de um azar, apesar de que se considerarmos o fato de que você inicia sua trajetória saindo do saco do seu pai para a barriga quentinha da sua mãe, é uma puta melhora de vida.

Antes fosse esse saco.
Após mais ou menos oito semanas de mitoses intermináveis podemos ser chamados de feto, e daí pra frente acontecem várias coisas legais: nossos órgãos começam a se desenvolver rapidamente, e a partir da 13ª semana já é possível identificar nossos órgãos sexuais. Não precisamos nos preocupar nem em mastigar, pois nossas mães (junto com a placenta) já fazem isso por nós. Porra, a gente não precisa se preocupar em fazer nada! Nossa missão é simplesmente deixar a natureza fazer seu trabalho.

Valeu, Mãe Natureza!
E um "detalhe" importantíssimo: estamos dentro de um lugar quentinho e gostoso, flutuando, onde ninguém pode nos machucar, onde não precisamos dar satisfações a ninguém e muito menos nos preocupar com horários e afazeres. No útero da sua mãe você não tinha que entrar num ônibus e aturar algum moleque ouvindo funk carioca no viva-voz do celular. Você não tinha que ficar horas no trânsito. Aquilo era o céu, malandro.

Boa tentativa, Jesus.
Eis que um belo dia...

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOO!
De uma hora pra outra a sua casa começa a te expulsar de lá, e você tem que sair de qualquer jeito. Você não tem opção. Se você não sair pela saída, eles abrem o teto e tiram você. Ou você morre, mas quando você tem essa idéia geralmente já tiraram você de lá e aí é tarde demais.

Não vou nem comentar sobre o que uma mulher passa durante o parto, porque isso merece um post próprio mais pra frente.

Ao sair da sua casa - que volto a dizer, era quentinha, gostosa e aconchegante - amputam seu cordão umbilical junto com a placenta, e você percebe que usar os pulmões pela primeira vez dói pra caralho. Você tenta protestar chorando o mais alto que pode, mas é em vão. Já era.

Como se não bastasse, ainda furam o seu pé - o famoso exame do pezinho - e se você for menina, sua orelha. E se você for judeu, oito dias depois é o seu prepúcio - a pele que envolve a cabeça do pinto - que vai pra faca no brit milah (ou bris).

Foto sem relação com a postagem.
Resumindo: nascer é uma zica. E você vai ver no post seguinte que ser um bebê em desenvolvimento não é uma zica menor.